
<p>Enquanto reparo no impecável macacão branco de mangas bufantes da Frida (será que consigo achar algo igual em loja dos anos 70 ou só no <a href="https://olhardigital.com.br/tag/metaverso/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">metaverso</a>) – o filho de uma amiga dispara: “São incríveis esses <a href="https://olhardigital.com.br/tag/avatares/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">avatares</a>!”. Espera. <a href="https://olhardigital.com.br/tag/avatares/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Avatares</a>?</p>



<p>Juro que achei que eram atores. Eu não. Todos nós. Seis adultos que falam, leeem, escrevem sobre tecnologia. Que estao em Londres em um festival. Seis adultos que entre danças e gritinhos de &#8220;Mamma Mia!&#8221; – passaram metade do show&nbsp; tentando decifrar o enigma &#8211; e rebolando.&nbsp;</p>



<p>Estávamos a menos de quatro metros do palco, rodeados por um mar de gente fantasiada em puro delírio nostálgico, e ainda assim&#8230; não sabíamos. A dúvida persistia: seriam atores? Projeções? Humanos com CGI? Ou alguma entidade sueca que transcendeu o espaço-tempo? Só o ChatGPT nos deu a real: eram avatares. Ou melhor ABBAtares.</p>



<p>E é aí que entra o South by Southwest London 2025.</p>



<h2 class="wp-block-heading" id="h-entre-abbatars-e-almas-digitalizadas"><strong>Entre ABBAtars e almas digitalizadas</strong></h2>



<p>Na palestra “Making ABBA Voyage” no SXSW Londres, ouvimos os bastidores do que talvez seja a façanha mais surreal do entretenimento contemporâneo: colocar no palco versões digitais hiper-realistas dos quatro membros do ABBA em seu auge dos anos 70, com direito a figurino, suor simulado e carisma renderizado.</p>


<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter size-large"><img decoding="async" width="997" height="1024" src="https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Agnetha-credit-ABBA-Voyage-.jpg-997x1024.jpg" alt="ABBA" class="wp-image-1132895" srcset="https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Agnetha-credit-ABBA-Voyage-.jpg-997x1024.jpg 997w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Agnetha-credit-ABBA-Voyage-.jpg-292x300.jpg 292w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Agnetha-credit-ABBA-Voyage-.jpg-768x789.jpg 768w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Agnetha-credit-ABBA-Voyage-.jpg-1496x1536.jpg 1496w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Agnetha-credit-ABBA-Voyage-.jpg-1995x2048.jpg 1995w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Agnetha-credit-ABBA-Voyage-.jpg-150x154.jpg 150w" sizes="(max-width: 997px) 100vw, 997px" /><figcaption class="wp-element-caption">No SXSW London 2025, o futuro do palco foi revelado: avatares, luzes e emoção em código (Imagem: Voyage ABBA/Divulgação)</figcaption></figure></div>


<p>“Eles queriam capturar as próprias almas”, contou um dos produtores. E sim, essa frase foi dita com seriedade. Foram cinco semanas, oito horas por dia, com Agnetha, Björn, Benny e Anni-Frid vestindo trajes de captura de movimento em frente a 160 câmeras, recriando performances com energia de quem já viveu o auge e agora brinca com ele em loop.</p>



<p>“Foi como arqueologia de curto prazo”, disse Ben Morris, da Industrial Light &amp; Magic. “Tínhamos slides antigos, negativos esquecidos, rolos de filme&#8230; E reconstruímos os ABBA com base em tudo isso.”</p>



<p>&#8220;A arena é a casa do ABBA. Nós não criamos uma experiência imersiva. A vida é imersiva.&#8221; — Björn Ulvaeus, no SXSW London 2025<br><br>A perfeição foi obsessiva: os figurinos digitais foram criados a partir de roupas reais, costuradas à mão, com paetês aplicados um a um. Testaram os tecidos com sensores de peso e luz para que brilhassem exatamente como deveriam. Segundo os criadores, a ilusão só funciona se o detalhe mais banal – como um pedestal de microfone tremendo levemente – parecer real.</p>



<h2 class="wp-block-heading" id="h-luz-como-personagem-plateia-como-cumplice"><strong>Luz como personagem, plateia como cúmplice</strong></h2>



<p>A integração entre o palco físico e a projeção digital é outro truque brilhante. A mesma névoa que cobre a plateia cobre os avatares. A mesma luz que ilumina você, ilumina eles. Tudo é construído para que o cérebro não encontre frestas de dúvida.</p>


<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter size-large"><img decoding="async" width="997" height="1024" src="https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Frida-credit-ABBA-Voyage-.jpg-997x1024.jpg" alt="" class="wp-image-1132897" srcset="https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Frida-credit-ABBA-Voyage-.jpg-997x1024.jpg 997w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Frida-credit-ABBA-Voyage-.jpg-292x300.jpg 292w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Frida-credit-ABBA-Voyage-.jpg-768x789.jpg 768w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Frida-credit-ABBA-Voyage-.jpg-1496x1536.jpg 1496w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Frida-credit-ABBA-Voyage-.jpg-1995x2048.jpg 1995w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Frida-credit-ABBA-Voyage-.jpg-150x154.jpg 150w" sizes="(max-width: 997px) 100vw, 997px" /><figcaption class="wp-element-caption">Cada detalhe conspira para que o digital pareça real — até a luz entra em cena (Imagem: ABBA Voyage/Divulgação)</figcaption></figure></div>


<p>&#8220;A iluminação é quase um personagem. A gente esculpe com luz.&#8221;</p>



<p><strong>Leia mais:</strong></p>



<ul>
<li><a href="https://olhardigital.com.br/2023/12/17/pro/quem-foi-vera-molnar-pioneira-na-arte-da-arte-computacional-e-generativa/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Quem foi Vera Molnar, pioneira na arte computacional e generativa?</a></li>



<li><a href="https://olhardigital.com.br/2024/10/27/ciencia-e-espaco/importante-obra-de-rafael-tem-grande-detalhe-descoberto-pela-ia/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Importante obra de Rafael tem grande detalhe descoberto pela IA</a></li>



<li><a href="https://olhardigital.com.br/2024/11/08/pro/obra-de-arte-criada-por-robo-humanoide-e-vendida-por-milhoes/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Obra de arte criada por robô humanoide é vendida por milhões</a></li>
</ul>



<p>Os ABBAtars são projetados em uma tela LED de altíssima definição. A renderização acontece em tempo real, com simulações físicas de cabelo, tecido e movimento. E uma banda de 10 músicos de verdade toca ao vivo, dando calor humano ao show.</p>



<h2 class="wp-block-heading" id="h-quando-o-show-e-real-mas-o-tempo-nao"><strong>Quando o show é real, mas o tempo não</strong></h2>



<p>A arena, montada em Londres exclusivamente para esse show, é uma obra de engenharia: capacidade para 3 mil pessoas, 65 milhões de pixels, 500 refletores robóticos e um palco sem colunas, com visão 360º. A estrutura é desmontável e pode ser levada a outros países. Estima-se que o ABBA Voyage já tenha injetado mais de £1,4 bilhão na economia britânica.</p>


<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter size-large"><img loading="lazy" decoding="async" width="997" height="1024" src="https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Bjorn-credit-ABBA-Voyage--997x1024.jpg" alt="ABBA" class="wp-image-1132900" srcset="https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Bjorn-credit-ABBA-Voyage--997x1024.jpg 997w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Bjorn-credit-ABBA-Voyage--292x300.jpg 292w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Bjorn-credit-ABBA-Voyage--768x789.jpg 768w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Bjorn-credit-ABBA-Voyage--1496x1536.jpg 1496w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Bjorn-credit-ABBA-Voyage--1995x2048.jpg 1995w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Bjorn-credit-ABBA-Voyage--150x154.jpg 150w" sizes="(max-width: 997px) 100vw, 997px" /><figcaption class="wp-element-caption">Você já dançou num show onde nem o tempo é real? (Imagem: ABBA Voyage/Divulgação)</figcaption></figure></div>


<p>O público? Encantado. Críticos o chamam de “triunfo tecnológico”. Fãs relatam choro, euforia, espanto. Eu vi tudo isso. E a pergunta inevitável: isso é o futuro do entretenimento?</p>



<h2 class="wp-block-heading" id="h-mortos-vivos-no-palco-digitais-por-enquanto"><strong>Mortos-vivos no palco (digitais, por enquanto)</strong></h2>



<p>O ABBA é pioneiro, mas não está sozinho.</p>



<ul>
<li>O grupo KISS anunciou que vai continuar se apresentando em forma de avatares digitais criados pela mesma ILM e pela Pophouse Entertainment, fundada por Björn do ABBA. Os shows com avatares estreiam em 2027.</li>



<li>Um concerto holográfico do Elvis Presley chamado <em>Elvis Evolution</em> estreia em Londres em novembro de 2024. Desenvolvido pela Layered Reality, usará IA, projeções holográficas e arquivos restaurados:<a href="https://www.theguardian.com/music/2024/feb/27/elvis-hologram-concert-london-elvis-evolution"> fonte</a></li>
</ul>



<p>Enquanto isso, a família digital cresce. Hatsune Miku já canta em estádios no Japão desde 2010. Travis Scott e Marshmello fizeram shows para milhões dentro de Fortnite. E artistas gerados por IA começam a ocupar playlists.</p>



<h2 class="wp-block-heading" id="h-a-pergunta-que-flutua-no-ar"><strong>A pergunta que flutua no ar </strong></h2>



<p>Ver o ABBA Voyage é testemunhar o tempo se dobrando. Estamos diante de um novo gênero de show? Com certeza. Temos milhares de pessoas endeusando e batendo palma para uma gravação? Os avatares geram emoção?  E o que acontece quando esses corpos digitais começarem a cantar músicas novas, compostas por inteligências artificiais, sobre saudades que nunca sentiram de amores que nunca viveram?</p>


<div class="wp-block-image">
<figure class="aligncenter size-large"><img loading="lazy" decoding="async" width="997" height="1024" src="https://olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Benny-credit-ABBA-Voyage-.jpg-997x1024.jpg" alt="" class="wp-image-1132901" srcset="https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Benny-credit-ABBA-Voyage-.jpg-997x1024.jpg 997w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Benny-credit-ABBA-Voyage-.jpg-292x300.jpg 292w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Benny-credit-ABBA-Voyage-.jpg-768x789.jpg 768w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Benny-credit-ABBA-Voyage-.jpg-1496x1536.jpg 1496w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Benny-credit-ABBA-Voyage-.jpg-1995x2048.jpg 1995w, https://img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Performance-Benny-credit-ABBA-Voyage-.jpg-150x154.jpg 150w" sizes="(max-width: 997px) 100vw, 997px" /><figcaption class="wp-element-caption">ABBA Voyage: o passado em loop, o futuro cantando emoções que nunca viveu. (Imagem: ABBA Voyage/Divulgação)<br></figcaption></figure></div>


<p>Naquela noite em Londres, a Frida virtual cantava “The Winner Takes It All”. E uma amiga minha chorava. Uma lágrima caiu, não tanto pela minha emoção saudosista de um tempo que nem cheguei a viver tanto assim, mas pela catarse coletiva que presenciei. Talvez o show seja feito de pixels. Mas o que ele toca em nós é pura carne.</p>
<p>O post <a href="https://olhardigital.com.br/2025/06/12/colunistas/make-abba-voyage-quando-o-futuro-sobe-ao-palco-com-botas-plataforma/">Make ABBA Voyage: quando o futuro sobe ao palco com botas plataforma</a> apareceu primeiro em <a href="https://olhardigital.com.br">Olhar Digital</a>.</p>
