<p>A imagem poderia ser de uma sala cirúrgica, mas os cientistas russos vestidos com macacões estéreis e máscaras não estavam analisando um corpo humano — e sim o de um <strong>filhote de mamute que morreu há mais de 130 mil anos</strong>. <a href="https://veja.abril.com.br/ciencia/fossil-de-bebe-mamute-de-50-mil-anos-e-encontrado-na-russia/" target="_blank" rel="noopener">Encontrada no verão passado</a> na região de Yakútia, no extremo leste da Rússia, a carcaça da mamute apelidada de Yana foi dissecada no fim de março de 2025 por uma equipe de paleontólogos, biólogos e genetistas, que a trataram como um verdadeiro<strong> tesouro da Era do Gelo</strong>.</p>
<p>Yana se juntou a um grupo muito seleto: até então, apenas seis carcaças inteiras de mamutes haviam sido encontradas no mundo — cinco na Rússia e uma no Canadá. A diferença é que nenhuma chegou<strong> tão intacta</strong> quanto ela.</p>
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<h3 data-start="912" data-end="961">Como o mamute foi preservado por tanto tempo?</h3>
<p data-start="963" data-end="1388">O segredo está no solo permanentemente congelado da Sibéria, conhecido como permafrost. Foi ele que impediu a decomposição do corpo por milhares de anos, preservando até os <strong>tecidos moles, o estômago e parte do intestino</strong> de Yana. Com <strong>1,2 metro de altura</strong> e<strong> 180 quilos</strong>, a fêmea tem a pele ainda com tom acinzentado, pelos avermelhados e olhos reconhecíveis. É considerada o mamute mais bem preservado já encontrado até hoje.</p>
<p data-start="1390" data-end="1752">Embora inicialmente se pensasse que ela tivesse morrido há 50 mil anos, análises do gelo ao redor da carcaça indicaram que Yana viveu há <strong data-start="1527" data-end="1551">mais de 130 mil anos</strong>, bem antes dos primeiros humanos ocuparem a região. Segundo os cientistas, a mamute tinha pouco mais de um ano de vida, já que suas presas de leite — típicas da espécie nessa idade — estavam visíveis.</p>
<figure><img alt="Stringer/AFP" decoding="async" src="https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2025/04/mammoth_dissection_642.jpg" /><figcaption>Durante a necropsia, cientistas russos abrem cuidadosamente o flanco de Yana<span class="copyright">Stringer/AFP/Reprodução</span></figcaption></figure>
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<h3 data-start="1759" data-end="1813"><strong data-start="1759" data-end="1813">Por que a necropsia desse animal é tão importante?</strong></h3>
<p data-start="1815" data-end="2192">A dissecção feita no Museu do Mamute da Universidade Federal do Nordeste, em Yakutsk, permite entender não só como era o <a href="https://veja.abril.com.br/ciencia/escavacoes-na-austria-revelam-ossos-de-mamute-de-25-mil-anos-veja" target="_blank" rel="noopener">corpo desses animais extintos</a>, mas também o <strong>ecossistema em que viviam</strong>. Os pesquisadores analisaram o conteúdo do sistema digestivo para identificar plantas, esporos e bactérias que Yana consumiu — e com isso reconstruir detalhes sobre o ambiente da época.</p>
<p data-start="2194" data-end="2516">Um dos objetivos da equipe é buscar <strong data-start="2230" data-end="2256">microrganismos antigos</strong> que possam estar preservados em seu corpo. Isso pode ajudar a entender a <strong data-start="2330" data-end="2356">evolução das bactérias</strong> e também levantar hipóteses sobre os <strong data-start="2394" data-end="2414">riscos do degelo</strong> do permafrost liberar patógenos desconhecidos, com impactos potenciais para humanos e outros animais.</p>
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<h3 data-start="2523" data-end="2572"><strong data-start="2523" data-end="2572">O que os cientistas já descobriram até agora?</strong></h3>
<p data-start="2574" data-end="2967">A equipe constatou que o<strong> estômago</strong> e <strong>parte do intestino grosso</strong> estavam bem preservados, com fragmentos de material vegetal ainda presentes. Amostras da pele, músculos e órgãos foram armazenadas para análise genética e microbiológica. Também estão tentando coletar amostras da microbiota vaginal do animal, o que pode revelar mais sobre os microrganismos que habitavam o corpo da mamute em vida.</p>
<p data-start="2969" data-end="3227">O cheiro exalado durante a necropsia foi descrito como uma mistura de<strong> terra fermentada com carne macerada</strong> — resultado da longa permanência da carcaça no subsolo gelado. A parte traseira do corpo, que ficou presa em uma encosta, será analisada posteriormente.</p>
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Filhote de mamute com 130 mil anos é dissecado na Sibéria